quinta-feira, 16 de junho de 2011

MESTRES DO CORDEL - V

JOSÉ PACHECO DA ROCHA


Costumo dizer sempre que as maiores influências que recebi como poeta cordelista vêm da infância, dos versos que ouvia meu pai recitar a caminho do roçado e dos folhetos de Leandro Gomes de Barros e José Pacheco que minha avó lia à luz de lampião após o jantar. A intriga do cachorro com o gato, do mestre José Pacheco, era um dos meus favoritos. Sátira deliciosa, com tom de fábula.  Este poema foi declamado em 2002 nos salões da Academia Cearense de Letras pelo saudoso pesquisador Ribamar Lopes para uma platéia embevecida. É que Ribamar sabia dar as tintas certas à narrativa, entremeando-a com seus ótimos comentários. Por exemplo: Ribamar achava muita graça do machismo do bichano, que, mesmo de porre, bota moral na mulher:



Quando o cachorro falava
Gato falava também
Gato tinha uma bodega
Como hoje os homens têm
Onde vendia cachaça
Recostado ao armazém.

Rei Leão mandou Cachorro
Efetuar uma prisão
E o cachorro passando
Na venda do gato então
Pediu pra beber fiado
O gato disse: - Pois não!


Subiu-se na prateleira
Uma garrafa desceu
Um cruzado de aguardente
O cachorro ali bebeu
Botou fumo no cachimbo
Pediu fogo e acendeu.


(...)

Embebedaram-se ambos
Garrafas secaram três
Cachorro fez um discurso
Falando bastante inglês
Gato embolava no chão
Discursando em francês...

A gata mulher do gato
Saiu de lá, veio cá,
E disse um tanto agastada
Vocês dois procedem "má"
O gato disse: - Mulher,
Da porta do meio pra lá!

(...)

Detalhe: essa raríssima fotografia do poeta José Pacheco foi extraída da capa de um folheto que trata de sua peleja com João Martins de Athayde.


BIOGRAFIA DE JOSÉ PACHECO
Por Leonardo Vieira de Almeida

José Pacheco da Rocha, ou José Pacheco, como é mais conhecido, nasceu no Município de Corrientes, em Pernambuco, residindo algum tempo na cidade de Caruaru, naquele mesmo estado.

Viveu muitos anos em Maceió, Alagoas, vindo a falecer naquela cidade, provavelmente em 1954. Folhetos de sua autoria foram publicados pela Luzeiro Editora, de São Paulo. Recentemente, a Editora Queima-Bucha, de Mossoró (RN), publicou o folheto A intriga do cachorro com o gato. Além disso, há edições de suas obras pela Catavento, de Aracaju (SE); Lira Nordestina, de Juazeiro do Norte (CE); Coqueiro, de Recife (PE), e por outras editoras.

Seus folhetos mais importantes são História da princesa Rosamunda ou a morte do gigante e A chegada de Lampião no inferno. As histórias de gracejos são um dos aspectos marcantes dos cordéis de José Pacheco, considerado um dos maiores cordelistas satíricos do Brasil. Mas o poeta se dedicou também a outros temas, como histórias de bichos, religião e romances.

Referências

▪ GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Secretaria do Estado de Ciência e Cultura e Departamento de Cultura – INEPAC/Divisão de Folclore. O cordel no Grande Rio. Rio de Janeiro: 1978.

▪ LOPES, Ribamar. Literatura de cordel: antologia. Fortaleza (CE): 1983, BNB.

▪ PROENÇA, Manoel Cavalcanti (Org.). Literatura popular em verso: antologia. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa, 1986.

▪ CARDOSO, Tânia Maria de Souza Cardoso. Cordel, cangaço e contestação: uma análise dos cordéis "A chegada de Lampião no inferno" (José Pacheco da Rocha) e "A chegada de Lampião no céu" (Rodolfo Coelho Cavalcante). Rio Grande do Norte: Coleção Mossoroense, 2003.


Fonte - site da CASA DE RUI BARBOSA


* * *



EM TEMPO: O folheto A intriga do cachorro com o gato está incluído na caxinha do Projeto Acorda Cordel na Sala de Aula. Esta caixa vem acompanhada de um livro e um CD. Custo total do KIT = R$ 60,00. Maiores informações:  acordacordel@ig.com.br

3 comentários:

  1. ainda me emociono com essa história. meu falecido pai a ensinou pra mim, tenho 21 anos e sei ela toda de có desde os 6,

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  2. ainda me emociono com essa história. meu falecido pai a ensinou pra mim, tenho 21 anos e sei ela toda de có desde os 6,Daniel Henrique da Silva. em homenagem a meu pai Emidio Paulino da Silva

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  3. Muito bem lembrado, Daniel Henrique. Meu pai, Evaldo Lima, que graças a Deus ainda está vivo, também lia para os filhos quando crianças... Éramos 5 e ficavamos todos ao seu redor, escutando este e outros folhetos de José Pacheco. (Arievaldo Viana)

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