domingo, 29 de janeiro de 2012

LANÇAMENTO


Uma história de resistência






ILUSTRAÇÕES: JABSON RODRIGUES/ DIVULGAÇÃO
 
No livro O Quilombo do Encantado: Marcos Mairton fala sobre um assunto ainda pouco estudado: a relação entre negros e índios nos tempos da escravidão no Brasil
 
Numa volta ao passado do Brasil, o cearense Marcos Mairton discorre sobre a convivência de negros e índios nos tempos da escravidão. O livro "O Quilombo do Encantado" será lançado às 19h30, com bate-papo na Livraria Cultura
Filho de uma africana, trazida para o Brasil ainda menina, com um colono português, o jovem mestiço Antônio tinha olhos cor de mel. Ele vivia no Forte de São Sebastião com a mãe. Por seus traços físicos deixarem transparecer a herança lusitana, ele nunca era mandado para os serviços mais pesados. Ficava sempre perto da casa de seu senhor, ajudando nos afazeres da "Casa Grande".

A vida corria seu ritmo monótono, até que um dia o jovem viu a mãe, Bernarda, ser agredida pelo capataz da fazenda. Sem pensar duas vezes, Antônio parte para cima do homem e depois de açoitá-lo, foge sozinho embrenhando-se na mata. Com os índios Tremembés (inimigos ferrenho dos portugueses), encontra abrigo e uma nova família. Mas, o rapaz mantém sempre viva a memória e a saudade da mãe negra...
Resgate histórico
A partir desse enredo, o escritor e compositor cearense Marcos Mairton aproveita para discorrer sobre um dos aspectos pouco estudados da história brasileira: a convivência de negros e índios em quilombos nos tempos da escravidão.

Numa linguagem simples e acessível, o autor, através da ficção nos põem em contato com essa realidade. E, apesar de o livro "O Quilombo do Encantado" ser direcionado ao público infantojuvenil, a obra não deixa de ser um acesso interessante para os adultos compreenderem um pouco mais da história do Brasil.

A narrativa é complementada por ilustrações do artista plástico Jabson Rodrigues. As imagens conseguem passar ao leitor um registro fiel do drama criado por Marcos Mairton.
Processo
Para falar sobre o processo de produção de "O Quilombo do Encantado" e sua trajetória artística na música e na literatura, Marcos Mairton realiza hoje, às 19h30, um bate-papo no auditório da Livraria Cultura.

"Desde 2008 venho publicando pela Editora Conhecimento. O primeiro livro resultante da parceria foi ´Uma aventura na Amazônia´. Agora, com ´O Quilombo do Encantado´ trago para os jovens leitores uma narrativa que nasce dessa convivência entre índios e negros. Passei um ano pesquisando o assunto, contudo, o único registro histórico encontrado sobre essa relação aqui no País, foi na região Centro-Oeste", justifica.

O escritor também revela que se inspirou na história do índio e do negro no Ceará, incorporando alguns elementos importantes de fatos ocorrido no Estado no drama vivido pelo protagonista Antônio. "Particularmente, eu sempre gostei de estudar esses dois personagens. Ao longo da pesquisa sensibilizei-me com várias questões. Uma delas, trata-se de nossas origens. Temos uma história bonita, porém trágica e com muitos preconceitos. Além disso, há dramas familiares envolvidos na narrativa, quantos encontros e desencontros houve entre mães, pais e filhos. Infelizmente, isso ainda acontece no mundo moderno...O tempo passa, mas a gente parece que não muda", reflete.
Prosa




O Quilombo do Encantado Marcos Mairton

Conhecimento
2010
48 páginas
R$ 25

Bate-papo com o escritor Marcos Mairton sobre o livro "O Quilombo do Encantado", no auditório da Livraria Cultura (Shopping Varanda Mall - Av. Dom Luís, 1010). Hoje, às 19h30. Aberta ao público. Contatos: (85) 3032.7874
Fique por dentro Quilombos no CE
O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) contabilizou oficialmente, em 2007, 16 comunidades quilombolas no Ceará, a maioria localizada em municípios do interior do Estado. Alguns dos locais encontrados são: Alto Alegre, Base, Queimadas, Horizonte, Pacajus e Crateús. Deste total, nove já solicitaram a titulação definitiva das terras que ocupam. Somente cinco delas se encontram em fase de pesquisa de campo.

Apesar do Incra reconhecer apenas essas comunidades quilombolas, estudos realizados por pesquisadores independentes apontam para a existência de mais de 60 em todo o Estado. Em Fortaleza, elas estariam distribuídas em bairros como Jardim Iracema, Pirambu, Mucuripe e Praia do Futuro.

Conforme a Lei nº 4887/03 - que regulamenta o procedimento para "identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por comunidades quilombolas", de que trata o Artigo 68 da Constituição Federal: "Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos".

É importante ressaltar, contudo, que, mesmo quando uma comunidade se autodefine como quilombola, são necessários diversos documentos comprobatórias, pareceres, laudos e relatórios técnicos, fruto de investigação conduzida pelo Incra.

ANA CECÍLIA SOARESREPÓRTER

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